segunda-feira, novembro 30, 2015

DEZ ANOS

Um dia desses li em alguma rede social uma postagem interessante. Dizia que, no passado, as pessoas escreviam diários e ficavam possessas se alguém os lia. Hoje, escrevem blogs (=diários) e ficam chateadas se ninguém os lê.

Verdade, né?

Tempos modernos!

Mesmo os blogueiros mais blasés ficam orgulhosos com os números apontados nas estatísticas de visitas ao seu diá... ops, blog.

Eu mesma, que há dez anos iniciei esse blog "pensando em mostrar aos amigos - novos e antigos - como é minha vida, o que faço, aonde vou, o que vejo, o que penso", como num diário mesmo, sem nenhuma pretensão de ter elevado número de leitores, fico toda pimpona quando vejo que alguns posts bombam. Olha só esses números:


Visualisação de páginas nos últimos 5 anos

Dá um orgulhinho saber que tanta gente apareceu por aqui pra ver/ler as minhas histórias.

E fico ainda mais felizinha quando vejo que essa gente está espalhada pelo mundo afora. 

Quando, ao começar essa aventura, eu pensaria em ser lida na China, Rússia, Ucrânia... 

Leitores dos últimos 5 anos

Internet, eu te amo! 




E vejam só a coincidência: no meu primeiro post aqui no De uns tempos... eu contava sobre o lançamento de um livro de poesias de Chico César, o Cantáteis. E não é que, há poucos dias, Chico lançou um novo livro, também de poesias: Versos Pornográficos.

Fui lá, claro! E acrescento a dedicatória que recebi à comemoração dos dez anos desse blog, que já nasceu tiete do Chico.

Taí:


Viva!

domingo, novembro 15, 2015

ACHADOS EM SANTIAGO

Contadas as venturas e desventuras da viagem a Santiago, com as mágoas já guardadinhas lá no fundo da memória – e os dólares repostos – volto pra contar sobre nossa agradável descoberta gastronômica na cidade: o Peumayén.


Não, ninguém nos indicou o lugar. Nenhum blog, nenhum amigo, nenhum site turístico. Fomos nós mesmas que notamos a discreta entrada do restaurante, numa caminhada pelo bairro. Achamos simpático o lugar e gostamos da proposta de comida ancestral. Ana fotografou a placa para futura referência. (Sim, somos dessas que saem fotografando coisas e lugares pra não esquecer mais tarde.)

Fomos, numa noite de quinta-feira. O primeiro deslumbramento ficou por conta do cenário. Dois espaços. Um salão sóbrio, com peças e panos primitivistas. Um jardim interno com plantas que se esparramavam pelas paredes e vigas. Em tudo um perfume agradável e inesquecível. Chegamos cedo, sem reserva, nem nada: a casa abre às 19h. Conseguimos uma mesinha no primeiro ambiente. Ô sorte, minutos depois o lugar estava cheio.



Naquele ambiente descolado, rústico chique, um time de funcionários jovens e bem afinados se revezava para explicar e servir cada passo do jantar.

Começamos com um pisco sour de rica-rica.


O garçom responsável por apresentar os drinks nos olhou com ar de aprovação quando viu que já éramos “íntimas” da perfumada erva do deserto chileno.

Enquanto esperávamos nossa bebida, outra assistente nos descreveu as opções de entrada. 


Optamos pela degustação vegetariana.

E assim começou nossa noite: com aroma de rica-rica, sabor de pisco, agradinho do chefe com tartar de carne de cavalo o_O e nossa tábua de legumes grelhados.


Para a eleição dos pratos principais, mais uma rodada de informações, descrições e sugestões, protagonizada por nova atendente.


Antes que nossas escolhas chegassem à mesa, ainda havia muito o que degustar. Seguimos com uma seleção de pães, cujas origens e história nos foram expostas com detalhes.


E mais um mimo do chefe, uma porçãozinha de batatas tinindo de crocantes.


Depois, pra preparar o paladar, um delicado sorbet de gengibre.

Assim, de surpresa em surpresa, chegamos aos pratos principais. Ana foi de carne de porco e eu de risoto de quinoa. Esplêndidos!

Chancho, algarrobina, legumbres

Lawa de quínoa y vegetales

Sobremesa? Claro!


Pra experimentar um pouquinho de tudo, escolhemos a degustação. Com chá pra acompanhar.


Se a sobremesa foi escolhida com a gula, o chá foi selecionado com o olfato. Chegaram à mesa dez potinhos com diferentes sabores/aromas, uma espécie de cardápio perfumado.


Depois de tudo isso, só mesmo a conta. Ei-la!


Algo entre 300 e 350 reais. Caro? Eu bem que avisei que a cidade estava com preços altos. Mas levando em consideração o deleite daquela noite, achamos justo o custo x benefício.


Voltaremos, com certeza!

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E falando em achado gastronômico, conto que descobrimos também um café maneiro, o María Betania.

Fica na Calle Obispo Perez de Espinoza, numa espécie de pracinha à margem da Av. Providência, numa bonita construção ao lado da Igreja Santos Angeles Custódios. (Aliás, a igreja é famosinha e só não a visitamos porque estava fechada quando estivemos por lá.)


Entramos atraídas pelo nome do café e gostamos do lugar, discreto e simples como a nossa musa Maria Bethânia.

Mais um lugarzinho pra voltar!

quinta-feira, novembro 05, 2015

ROUBADAS EM SANTIAGO - Parte final

Da janela do metrô, rumo à Concha y Toro
Foto: Ana Oliveira

Depois de ler os posts anteriores (parte 1 / parte 2) e saber dos perrengues que encontramos pelo caminho, vocês já devem estar morrendo de pena de nós e achando que nossa viagem foi uma grande roubada, mesmo. Agradecemos os abraços virtuais, as palavras de solidariedade, a preocupação etc, mas... calma, gente, nossa viagem teve também bons momentos como vocês viram nos episódios anteriores e verão adiante.

Olhaí!

Andando pelo nosso bairro boêmio, a Bellavista, fizemos uma bela descoberta: um restaurante de comida ancestral com uma cara super boa. Jantamos lá na nossa última noite e amamos cada prato, cada cheiro, cada surpresa. Foi o ponto alto da nossa viagem. Gostamos tanto que decidimos dedicar um post inteirinho a ele, depois que terminarmos de contar nossas venturas, aventuras e desventuras pela cidade.

Na sexta-feira, nosso último dia de viagem, teríamos um dia cheio. Cedo, arrumação de mala e check out no Tinto. À tarde, visita à vinícola Concha y Toro. À noite, mudança para o Hotel Diego de Almagro Aeropuerto, para facilitar a viagem de volta que seria bem cedinho no sábado.

Foto: Ana Oliveira

Pela manhã, ainda demos um pulinho em La Chascona, a casa que Pablo Neruda construiu em Santiago para seus encontros com a amada Matilde. Pensávamos em tomar um café e curtir um pouco aquele espaço já conhecido de outras viagens, mas... demos com os burros n’água: já não existe o café na casa do poeta.

No check out, num gesto de simpatia, o hotel nos ofereceu um desconto que não chegou a 10% no total das diárias. Gostamos, claro, mas foi pouca recompensa pra tantos perrengues, né gente?

E partimos para a Concha y Toro, deixando a mala no hotel. Fomos de metrô, seguindo a receitinha do Riq Freire. Aqui mais uma quase-mini-roubada: chegando à estação Mercedes, havia a opção de seguir em táxi ou ônibus. Escolhemos o táxi. No ponto à saída do metrô, alguns taxistas conversavam sobre uma possível greve e nem se abalaram para nos atender. Tentamos um táxi que estava no estacionamento do shopping ali do lado, e o motorista propôs cobrar 5.000 pesos por pessoa. Que isso? Sabíamos que o preço total da corrida era aproximadamente 3.000 pesos! Chegamos ainda a abordar um taxista que vimos parado na rua, mas ele nos disse que não podia ir até a vinícola pois somente os táxis de teto amarelo tinham permissão para tal... Anote aí, quando quiser ir à Concha y Toro, procure por um táxi de teto amarelo!

Um vendedor de rua, nos vendo com cara de turistas perdidas, nos indicou o ponto do ônibus. Fomos e voltamos com o 73 e foi bem tranquilo, apesar do esquecimento do motorista da ida, que nos deixou um ponto adiante do local.

La Casona, na Concha y Toro
Foto: Ana Oliveira

Almoçamos na vinícola e fizemos a visita tradicional. A guia era simpática e falava um espanhol fácil de entender. Degustamos três vinhos e saímos com nossas taças de brinde.

Ana no Jardín de Variedades da Concha y Toro

Ônibus, metrô e chegamos à Estação Baquedano que, naquele fim de tarde de sexta-feira, estava agitadíssima. Na rua, continuava o furdunço. Para chegar ao nosso destino, o hotel Tinto, onde nossa mala nos esperava, tínhamos que atravessar quatro grandes avenidas e mais a ponte sobre o Rio Mapocho, disputando espaço com os estudantes das duas faculdades do pedaço e mais toda a gente que circulava por ali. Foi então que aconteceu a grande roubada: abriram nossas mochilas e levaram minha carteira com dólares, reais e alguns documentos. Típico!

A mochila da Ana também foi aberta, mas como não tinha nada de valioso à vista, nada foi levado. Já eu, distraidamente, havia deixado a carteira de "coisas que não vou usar mais até a volta" em lugar fácil para qualquer mão-leve. E que leve!

O dinheiro que estava ali não era tanto, os documentos não eram os mais importantes – e já foram repostos – de forma que a vida continua e a viagem também.

Voltamos ao Tinto, resgatamos nossa mala, recusamos a oferta da recepção para um carro que nos levaria até o aeroporto pelo valor fixo de 25.000 pesos e saímos, acompanhadas de um funcionário do hotel, em busca de um táxi normal.

Nem foi tão difícil, levando em consideração o dia e horário. Logo estávamos a caminho do Hotel Diego de Almagro. O motorista iniciou o caminho anunciando que ia pela Autopista Vespucio, mas depois mudou de ideia e disse que, naquele horário, seria mais fácil ir pela Alameda. Para isso, voltou um bom pedaço do caminho já feito e pegou belos congestionamentos. Desconfiada, comentei que estava estranhando o caminho e disse que já havia sido roubada naquele dia e não queria que a coisa se repetisse. Ele garantiu que o caminho era  o melhor e se interessou muito em saber sobre o roubo. Contamos e ele se mostrou pesaroso, comentou o quanto ele achava isso prejudicial para a imagem da cidade e coisa e tal.

Com essas e mais aquelas, chegamos ao hotel com o taxímetro marcando quase 18.000. Ele tinha razão, o caminho não foi ruim. Descemos do carro na rua, pois, segundo o motorista, os táxis não tinham permissão de entrar no espaço do hotel. Ele nos desejou boa viagem de volta ao Brasil e, mais uma vez, se desculpou pelo que seus conterrâneos haviam feito conosco.

Na recepção fomos muito bem atendidas. O Diego de Almagro se mostrou uma ótima alternativa pra quem precisa dormir perto do aeroporto e não quer pagar a fortuna que o Holiday Inn  – a dois passos do terminal –  está cobrando. Restaurante aberto até as 23h, café da manhã a partir das 4 da manhã e van para o aeroporto de meia em meia hora ininterruptamente. Quarto bom, que só perde ponto pela cortina de plástico do box. Recomendamos!

Para encerrar o dia, tomamos um lanche no restaurante do hotel e pensamos em pagá-lo com os últimos pesos que nos restavam. Abri a carteira de pesos e... foi aí que nos demos conta do golpe de mestre: o taxista tinha usado aquela velha artimanha. Na chegada, enquanto Ana tirava a mala do banco da frente, eu pagava a corrida dando duas notas de 10.000 pesos. O taxímetro marcava 18.000, lembram? Pois o indivíduo me disse que faltava dinheiro e me mostrou as notas que eu teria dado a ele: uma de 10 mil e outra de mil. Faltavam, portanto, sete mil pesos.

Caí como a mais ingênua das turistas.

Paguei!

E lá se foram 27.000 pesos para um sujeito que ainda debochou de nós pedindo desculpas pelo que seus compatriotas fizeram conosco.

Foi assim...

Fiquei muito mais aborrecida com o caso do taxista malandro do que com o ladrãozinho de rua.

Chorem conosco e voltem logo mais pra saber como foi o nosso jantar especial na Bellavista.

Ah, se a gente volta a Santiago? Sim, um dia... quando passar a indignação.

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E sabem que mais? Eu já havia sido roubada em Santiago no século passado. Levaram minha bolsa de dentro de um restaurante na Providência. Ou seja, já sou freguesa.

domingo, novembro 01, 2015

ROUBADAS EM SANTIAGO - Parte 2


Foto: Ana Oliveira

Chegou por aqui agora e ainda não leu a primeira parte desse relato, onde contamos as dores e delícias dos nossos dois primeiros dias de viagem por Santiago? Taí:


Ou fique com essas cenas do capítulo anterior:

Nos hospedamos no Tinto Boutique Hotel e tivemos alguns problemas menores até que chegamos a uma noite em claro por conta do barulho no restaurante do próprio hotel. Na madrugada, acordadas e chateadas, decidimos mudar de hotel na manhã seguinte.

E assim foi. O dia amanheceu e nós, cansadas, ainda tivemos o desprazer de perceber que o conserto da descarga, feito no dia anterior, não havia surtido efeito.

No café da manhã, encontramos os mesmos itens do dia anterior, mas dispostos num buffet, acrescido do oferecimento de ovos. Tomamos um café rápido e saímos em missão de exploração dos hotéis.

Começamos pelo The Aubrey e a recepcionista nos disse que só tinha disponibilidade na suíte master, por um preço impagável. Argumentamos, dizendo que tínhamos visto um quarto disponível no Booking, mas ela disse que ele já estava ocupado.

Andamos pela região, fazendo a ronda dos hotéis, mas não encontramos nenhunzinho. Pra não dizer que não encontramos nada, vimos, sim, um quartinho minúsculo e empoeirado no Mito Casa Hotel. Fuén!

Voltamos desanimadas para o Tinto e, usando o wi fi que, há que se dizer, era uma das boas coisas do hotel, acessamos mais uma vez o Booking e lá estava a vaga no The Aubrey. Teimosas, reservamos e recebemos confirmação.

Enquanto Ana arrumava nossa bagagem, fui até o The Aubrey para "tomar posse" do nosso quarto. E, roubada das roubadas, não havia disponibilidade, embora eu estivesse ali com a reserva feita e confirmada. Dá pra acreditar? 

Foi um belo bate-boca ali na recepção, mas saí de lá com uma mão na frente e outra atrás.

Só nos restava fazer uma reclamação no Tinto e tentar melhorar a nossa situação por lá mesmo. Fizemos! E fomos prontamente atendidas pelo recepcionista. Ele reconheceu que houvera muito barulho naquela noite e que o mesmo poderia acontecer nas próximas, portanto, para nos compensar, nos daria um upgrade para um quarto maior e mais confortável, voltado para o outro lado. Aceitamos, mas quisemos antes ver o quarto prometido. Vimos e aprovamos!

O Booking entrou em contato conosco lamentando qualquer inconveniente e propondo estadia num em estabelecimento muito diferente do que estávamos buscando, localizado no centrão. Fala sério!

Com essas e mais aquelas, perdemos a manhã e a hora da nossa visita à Vinícola Cousiño Macul, agendada para as 11h.

Nossa centolla no Mercado Central
Foto: Ana Oliveira

Aproveitamos o resto do dia fazendo uma caminhada até o Mercado Central. Comemos centolla no El Galeón. Trocamos mais dinheiro na Calle Agustinas, onde encontramos o melhor câmbio. Tomamos um café e comemos um delicioso crème brûlée de laranja no Centro Cultural Palácio La Moneda. Fomos ver o filme "Allende mi abuelo Allende", no curioso cinema do Centro Arte Alameda. Voltamos ao Chipe Libre para mais um pisco e retornamos ao hotel cansadas do dia e da noite mal dormida.

Centro Arte Alameda
Foto: Ana Oliveira

O recepcionista da noite, ciente da mudança de quarto, refez nossos cartões/chave e nos disse o número do novo quarto. Subimos para... mais uma grande roubada: o quarto para onde nos haviam transferido NÃO era o que nos haviam prometido e que nós tínhamos visto e aprovado. Era um quarto igual ao nosso, só que no primeiro andar, voltado também para a piscina e, portanto, para o restaurante do hotel que, já naquele momento, funcionava a pleno vapor.

O motivo? O recepcionista da noite não sabia dizer. Tentou colocar a culpa na descarga do apartamento prometido, dizendo que não estava em bom estado. Mas o tal apartamento estava ocupado... Depois ensaiou dizer que daquele lado havia um elevador muito barulhento. Enfim, mais uma decepção, mais um bate-boca e mais uma situação imutável: para onde iríamos àquela hora, numa Santiago superlotada?

Ficamos. Foi mais uma noite péssima, mais uma descarga com mau funcionamento e mais um café da manhã sem graça.

Nessa altura, Ana estava penando com uma crise de rinite alérgica que nos fez duvidar da perfeita higienização do ar condicionado do nosso quarto no Tinto. Será? Só nos faltava mais essa roubada...

E assim chegamos ao quarto dia da nossa viagem.

Ainda tentamos melhorar nossa situação no hotel conversando com o recepcionista da manhã – que por algum motivo não era o mesmo com quem nos entendêramos no dia anterior – mas não tivemos qualquer êxito.

Com a reserva para a visita refeita, partimos de metrô + táxi para a Vinícola Cousiño Macul seguindo as instruções precisas do guru do Viaje na Viagem. Deu tudo super-certo. Até que caímos numa roubadinha: havíamos feito reserva para um grupo com guia em espanhol, mas na hora H formou-se um grupo com guia em português e nós topamos. O grupo era enorme e o guia deixava muito a desejar nas informações e respostas às perguntas do pessoal. Ficamos olhando invejosas para o grupo de duas pessoas com guia chileno. Mas terminamos a visita muito bem, com um enólogo simpático e competente que nos acompanhou no momento da degustação dos vinhos.

Foto: Ana Oliveira

Quando você for à Cousiño, invista na visita Premium. Vale a pena! 
Desejamos sorte pra não cair nas mãos do guia brasileiro... 

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(Tá pensando que acabou. Que nada! Tem mais roubadas – e achados  nos próximos capítulos!)